ORIENTAÇÕES SOBRE AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2020
“Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar…”(Rm12,2)
Caros Padres, Religiosos(as) e todo o Povo de Deus presente na Igreja Particular de Araçuaí. Minha saudação fraternal! Estamos nos aproximando de mais um pleito eleitoral municipal o que ocorrerá em novembro próximo, oportunidade essa onde poderemos exercer nossa cidadania de maneira plena, consciente e responsável.
Todos nós sabemos que o cenário sociopolítico e econômico, há tempo, vem sendo dilapidado, corroído, por um “câncer” chamado corrupção, interesses particulares que sobrepõem ao público, numa falta de ética e moral sem precedente.
Com o desejo e a esperança de um dia contemplarmos uma sociedade, onde as estruturas funcionem em favor dos cidadãos(ãs), a Igreja do Brasil oferece algumas pistas de reflexão através das “cartilhas” que nessas ocasiões são elaboradas e enviadas para as Paróquias, a fim de se debater a “boa política”, porque o Reino passa por esta dimensão tão importante na vida de uma sociedade. É por isso que a Igreja, as Dioceses, incentivam a participação dos cristãos, homens e mulheres que “sonham o sonho de Deus”, que almejam “um novo céu e uma nova terra”, a se comprometerem no processo eleitoral, para fazer a grande diferença, mostrando que é possível realizar mudanças estruturais sem se corromper.
Em comunhão com a caminhada da Igreja do Brasil, com a nossa Províencia Eclesiástica e acolhendo algumas contribuições de outros colegas Bispos, oferecemos aqui algumas orientações aos nossos candidatos católicos, para que suas participações no pleito sejam marcadas por uma visão lúcida da realidade brasileira, empenhando-se de maneira responsável, democrática e comprometidos com o BEM COMUM: na defesa da ética, do direito e da dignidade das pessoas, em especial os marcados pelo empobrecimento e excluídos. É o grande compromisso dos batizados na política.
Por isso recomendamos:
1) Que o exercício do poder seja um serviço ao povo. Verifique se os candidatos estão comprometidos com as grandes questões do povo, tais como a superação da pobreza, a promoção de uma economia solidária, voltada para a criação de postos de trabalho e justa distribuição de renda, a educação de qualidade para todos, a saúde, a moradia, saneamento básico, respeito à vida e defesa do meio ambiente.
2) Governar é promover o bem comum. Analise se os candidatos e seus partidos estão comprometidos com a justiça e a solidariedade social, a defesa da dignidade da pessoa, os direitos humanos, a cultura da paz e a superação da violência, a segurança pública, a justiça no campo e com o cuidado com a Casa Comum na perspectiva da ecologia integral. Lembrem-se de que não existem candidatos da Igreja Católica, mas católicos candidatos.
3) Voto não é mercadoria. Fique atento à prática da corrupção eleitoral, do abuso do poder econômico e da compra de votos. Candidatos com um histórico de corrupção ou má gestão dos recursos públicos não devem receber nosso apoio nas eleições.
4) Leigos e leigas de nossas comunidades e paróquias que se candidatarem para as eleições poderão permanecer em suas funções ministeriais e pastorais. No entanto, não devem fazer de seu serviço na Igreja espaço de propaganda eleitoral. Por isso, não devem, no exercício de suasfunçõeslitúrgicas, portar nem vestes nem quaisquer outros objetos de propaganda eleitoral. Também não devem ser impedidos de continuar sua participação e serviços nas comunidades, o que seria contraditório ao incentivo da Igreja a que entrem no mundo da política.
5) Leigos e leigas, candidatos oriundos de nossas comunidades e paróquias, de comum acordo com respectivos párocos ou administradores paroquiais, tenham a oportunidade de dialogar com grupos de interessados para se apresentar e para dar a conhecer seus compromissos e propósitos políticos. Isso cria a oportunidade para partilhas, questionamentos e conscientização na liberdade do dever de participação cidadã de todos os cristãos e contribui para escolhas adequadas. Esses encontros ou rodas de conversa poderão acontecer nas dependências da paróquia, mas nunca dentro do templo e jamais durante qualquer celebração. Oportunize-se para nossos fiéis a adequada compreensão da distinção entre as funções do executivo municipal e as do legislativo municipal.
6) Aos ministros extraordinários da distribuição da Sagrada Comunhão, ministros da Palavra, catequistas, agentes pastorais e outros é vedado pedir voto ou manifestar opções políticas quando estiverem exercendo suas atividades pastorais na Igreja. Não é permitida a atuação de “cabos eleitorais” durante celebrações, encontros, festas e outras atividades da Igreja.
7) Em todos os casos, não serão admitidos pedidos de votos e manifestações, inclusive em grupos virtuais cujo objetivo é articular o trabalho institucional da Igreja; 8) Todos os fiéis deverão se abster do uso de símbolos e bandeiras de partidos políticos ou de propaganda eleitoral durante as celebrações religiosas, festas dos padroeiros e outras atividades institucionais;
9) Não será admitida a distribuição de panfletos e outros materiais de campanha no interior das igrejas e demais espaços institucionais;
10) Em respeito à missão dos ministros ordenados da Igreja e pelos balizamentos canônicos que não permitem envolvimento partidário por parte deles, está terminantemente proibido o uso de fotos, textos e imagens dos bispos, padres e diáconos permanentes e transitórios em material de propaganda eleitoral. Também, não é permitida a propaganda eleitoral contendo publicidade partidária ou de candidatos nos eventos da Diocese, em impressos das instituições da Diocese, nas celebrações litúrgicas e nos locais de culto das paróquias católicas. Todas essas orientações são para evitar “crime eleitoral” ou para não prejudicar a candidatura de alguém. O exercício da ética, da democracia, começa com essas pequenas observações nas nossas comunidades, respeitando os que pensam diferentemente, os que tem outras preferências políticas partidárias: VIVER A UNIDADE NA PLURALIDADE E DIVERSIDADE, constitui a marca da Comunidade Cristã. Penso que é um momento rico onde os candidatos cristãos poderão testemunhar valores éticos morais, tão carentes na vida da sociedade hoje.
Araçuaí, 01 de setembro de 2020.
+Dom José Carlos Brandão Cabral Administrador Apostólico de Araçuaí