A dimensão da oração é o sustento da alma, o coração humano precisa acolher a sensibilidade do sentir-se próximo de Deus, sem um coração sensível é impossível participar da governança divina. O espírito orante e vigilante é que deve guiar todo homem e toda mulher de boa vontade, o ato máximo para se relacionar com o Criador é a vigília orante: “Vigiai e orai” (Mt 26,41). É por falta de relacionamento entre homem e Deus que se consegue deparar com uma sociedade onde os valores são mudados ou simplesmente esquecidos, é doloroso tal reconhecimento, mas é justo fazê-lo: a humanidade tem se afastado de Deus e não ao contrário.
Um coração que não contempla, também não experimenta o amor. É graça salutar a irredutibilidade do amor do Pai, o coração que não se reconhece como dependente da graça não consegue experimentar o reino. O jeito de rezar e de contemplar o Verbo que é o Cristo é a forma mais eficaz de se afirmar como amigo do Deus Filho, é fazer do dia a dia uma Lectio Divina em relação à vida pública de Jesus que agora se estabelece na vida do irmão e da irmã. A leitura diária da Palavra de Deus passa pelo testemunho em amar o irmão: “Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê.” (1 Jo 4,20).
O amar o irmão é a concretização espiritual da misericórdia, ou seja, é a dinâmica reveladora do mais profundo e misterioso amor de Deus, cujo sentido é resgatar o coração que lhe pertence. Toda a Palavra de Deus é centralizada na misericórdia, mesmo diante das desavenças humana em relação à fé, o que permanece é a graça. Nem mesmo as experiências negativas da vida cotidiana afasta o coração de Deus do coração humano, o que permanece é a salutar e indispensável graça do Pai. O Apóstolo Paulo é um instrumento de Deus para recordar cada coração o quão grande é o Criador e sua bondade: “Sobreveio a lei para que abundasse o pecado. Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20). A graça superabundante é sem dúvida o Cristo que ao encarnar-se na vida cotidiana trouxe à humanidade a permissão para participar desse governo celestial, o Cristo é o Verbo que é a reconciliação entre Deus e Homem, é uma graça a ser pedida todos os dias: “ Fica Conosco”.
É rezando que se pode chegar ao ápice do entendimento propício que salienta que à natureza humana foi criada apenas para vivenciar o “Princípio Fundamento” que é apresentado à humanidade pela vivência de fé de Santo Inácio de Loyola: “O ser humano é criado para louvar, reverenciar e servi a Deus nosso Senhor e, assim, salvar-se”. Todo o resto é fruto da externidade que não aproxima o homem de Deus, o caminho espiritual e orante é realizado de dentro para fora, é ter a graça sensível de que o Espírito Santo é o sopro que carrega o homem a “ Salvar a sua alma”, ou seja, é a intimidade constante entre o coração que deseja amar e o coração que é a pura essência do amor, o CRISTO.
Seminarista Roberto de Santa Teresa de Calcutá